A produção de seda, uma das atividades agroindustriais mais tradicionais do Paraná, enfrenta um desafio inédito que coloca em risco a continuidade do setor, especialmente no noroeste do Estado. De acordo com a Agência Agropecuária do Paraná (Adapar), 170 denúncias de problemas na criação do bicho-da-seda foram registradas ao longo deste ano, com maior concentração nas regiões de Nova Esperança e Cruzeiro do Sul.

O principal problema relatado até agora é a interferência de agrotóxicos utilizados em culturas vizinhas, que atingem as propriedades rurais voltadas à sericicultura. Nos casos mais comuns, a deriva dos produtos químicos resulta na morte das larvas, comprometendo diretamente a produção. No entanto, os técnicos estão lidando com uma nova situação que desafia o setor: os bichos-da-seda permanecem vivos, mas não conseguem formar casulos, interrompendo o ciclo produtivo.

Um Fenômeno Inédito

Segundo Renato Blood, chefe do departamento de Sanidade Vegetal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, este fenômeno é incomum e preocupa tanto produtores quanto especialistas. “A deriva de agrotóxicos é um problema recorrente na sericicultura, mas agora temos casos em que as larvas sobrevivem, porém não conseguem completar o processo de formação do casulo. Isso é algo que ainda estamos investigando profundamente”, explica o especialista.

A formação do casulo é uma etapa crucial na produção de seda. Sem ela, os criadores enfrentam prejuízos severos, já que o fio produzido pelas larvas é a principal matéria-prima do setor.

Impactos para a Região

O noroeste do Paraná é uma das principais regiões produtoras de seda do Brasil, com centenas de famílias envolvidas na atividade. Além do impacto econômico, a situação ameaça uma tradição que atravessa gerações. Muitos pequenos produtores dependem exclusivamente da sericicultura para sustentar suas famílias, o que torna o cenário ainda mais preocupante.

De acordo com associações de produtores locais, o custo para manter a criação do bicho-da-seda já é alto, e os problemas recentes podem inviabilizar a atividade. A falta de soluções imediatas para o problema do não desenvolvimento dos casulos aumenta a incerteza sobre o futuro do setor.

Possíveis Causas

Os técnicos da Adapar estão investigando diversas hipóteses para explicar o fenômeno. Além da deriva de agrotóxicos, outros fatores como mudanças climáticas, alteração na qualidade das folhas de amoreira (principal alimento das larvas) e até contaminação por substâncias desconhecidas estão sendo analisados.

“Estamos trabalhando em conjunto com pesquisadores para identificar a origem do problema. É um desafio que exige esforços multidisciplinares, já que pode envolver fatores ambientais, químicos e biológicos”, afirmou Renato Blood.

Soluções e Medidas

Enquanto o problema não é completamente esclarecido, a Adapar tem intensificado ações de fiscalização para evitar o uso inadequado de agrotóxicos em áreas próximas às criações de bicho-da-seda. Além disso, campanhas educativas estão sendo realizadas para conscientizar os produtores de outras culturas sobre os impactos da deriva química na sericicultura.

Associações de produtores também estão buscando apoio do governo estadual e de instituições de pesquisa para desenvolver alternativas e tecnologias que protejam a atividade.

Um Setor em Alerta

Para os sericicultores do noroeste do Paraná, a incerteza sobre o futuro da produção é motivo de preocupação. A seda brasileira é amplamente reconhecida pela qualidade no mercado internacional, e qualquer interrupção na cadeia produtiva pode afetar a competitividade do país.

“O bicho-da-seda faz parte da nossa história. É uma atividade que sustenta famílias e gera renda para a região. Precisamos de soluções rápidas e eficazes para que essa tradição não desapareça”, destaca um produtor da região de Nova Esperança.

A situação, ainda em fase de investigação, exige atenção e ações coordenadas para garantir a sobrevivência de uma atividade econômica e cultural que é símbolo do Paraná. O próximo ano será decisivo para o futuro da sericicultura na região, enquanto produtores e especialistas trabalham juntos para superar esse desafio sem precedentes.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui